Lixão do Aurá estaria poluindo reservatórios
Água de poço contaminada nas áreas do entorno e ameaça concreta
aos reservatórios que abastecem Belém. Esses foram alguns dos problemas
apresentados ontem, na Câmara Municipal de Belém, durante a sessão
especial que debateu o problema do Aterro Sanitário do Aurá, o principal
destino dos resíduos da Região Metropolitana de Belém. Proposta pelo
vereador Ademir Andrade (PSB), a sessão discutiu com as comunidades
diretamente afetadas pelo lixão possíveis soluções para os próximos
anos.
“Em funcionamento há quase 20 anos, o lixão do Aurá encontra-se
saturado e não suporta mais o volume de resíduos que para lá são
encaminhados diariamente de todos os municípios da RMB. Não existe mais
espaço, o lixo de amontoa em montes cada vez maiores”, afirmou o
vereador Carlos Augusto Barbosa, vice-presidente da Câmara.
O principal alvo das reclamações foi a Prefeitura de Belém. Segundo
os moradores das comunidades presentes à sessão, na gestão de Duciomar
Costa o problema do Aurá se tornou ainda maior. “O lixo agora vem sendo
jogado a céu aberto em qualquer lugar”, acusou o morador Raimundo
Jardel.
“Recebemos o aterro em piores condições do que ele está agora”,
defendeu o secretário de Saúde de Belém, Sérgio Pimentel, representante
da prefeitura na sessão, recebendo de volta uma série de protestos dos
moradores da comunidade.
“Meu filho que está estudando para o vestibular teve que sair de casa
porque só vivia doente”, afirmou Joselita Araújo, 53 anos, moradora da
comunidade de Santana do Aurá. Segundo ela, todos os moradores da
comunidade dependem da água de poço para consumo. Mas sofrem com isso.
“Todos os poços estão contaminados. Tem muita gente com diarreia, mancha
na pele e outras doenças”, diz ela.
O motivo seria a destruição do “cinturão verde” que delimitava a área
do lixão das comunidades diretamente afetadas pelo aterro. “Desde que o
prefeito colocou um motorista dele chamado Chiquinho para controlar o
aterro, o lixo passou a ser jogado em qualquer lugar, sem cuidado
algum”, disse Ademir Andrade.
Segundo dados apresentados por Andrade na sessão, são despejados
diariamente quase mil toneladas de resíduos domiciliares no Aurá. “Se
forem levados em consideração os resíduos sólidos como um todo, a
quantidade sobe para mais 400 toneladas. Se analisarmos toda a RMB, o
valor chega a duas mil toneladas”, disse ele.
Ainda segundo o vereador, há denúncias de que a Prefeitura de Belém
despeja indevidamente o chorume nos igarapés que dão acesso ao Lago
Bolonha para minimizar os efeitos da poluição causada pelo lixão. O
secretário Sérgio Pimentel negou a acusação.
O secretário apresentou como solução ao problema a ideia de um
consórcio envolvendo todas as prefeituras da RMB e do Governo do Estado,
“que não se inclui na discussão”. Pimentel foi questionado pelo fato de
a prefeitura de Belém não ter tomado nenhuma atitude em relação à
formação desse consórcio.
Sobre a possibilidade de mudança de local para destinação do lixo, o
secretário municipal de Meio Ambiente de Ananindeua, Fellipe Burlamaqui
foi taxativo. Não há mais locais para o lixo. “Em Marituba, Ananindeua e
Benevides não existem áreas disponíveis para um aterro”, afirmou.
O vice-presidente da Câmara afirmou que as propostas e reclamações
apresentadas durante a sessão serão encaminhadas à Prefeitura de Belém e
que uma gravação da sessão será enviada ao Ministério Público Estadual.
(Diário do Pará)