Pesquisa corrobora que belenenses ainda bebem águas minerais com altos níveis de acidez
por Walter Pinto / Janeiro e Fevereiro 2013
Pesquisa realizada pela engenheira agrônoma Érika Ferreira Rodrigues,
para obtenção do título de especialista em Gestão Ambiental pelo Núcleo
de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (NUMA/UFPA), constatou
que os belenenses continuam consumindo águas minerais com altos níveis
de acidez. O resultado das análises físico-químicas realizadas em
amostras de sete diferentes marcas comercializadas na Região
Metropolitana de Belém indicou que todas estão impróprias para consumo e
não podem ser classificadas como águas minerais. O estudo, apresentado
na forma de monografia, foi concluído em junho do ano passado.
A Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da
Saúde, que dispõe sobre o padrão de potabilidade das águas, recomenda
que o pH (potencial hidrogeniônico) da água própria para consumo seja
mantido na faixa de 6,0 a 9,5. Nenhuma das marcas analisadas no
Laboratório de Recursos Hídricos do Instituto de Geociências da UFPA
está dentro deste padrão. Elas variam o pH entre 3 a 4,5, o que
caracteriza águas ácidas, portanto, impróprias para consumo. A análise
apresentou os seguintes resultados: Belágua, 3; Top Line, 3,75; Mar
Doce, 3,80; Nossa Água, 3,89; Terra Alta, 4,14; Indaiá, 4,52. Como as
empresas não permitiram a coleta de águas em suas fontes, a pesquisadora
realizou exames em águas à venda nos supermercados, ou seja, examinou
amostras de águas comercializadas.
“Uma água precisa ter um pH acima de 6,5 para ser potável. Abaixo
disso, não é água potável, podendo, inclusive, causar problemas de
saúde”, adverte o professor Milton Matta, orientador do trabalho. Ele
explica que as águas comercializadas em Belém são ácidas. “Essa água,
sendo consumida durante dez, vinte anos, pode causar problemas
gástricos, como gastrites, úlceras e câncer de estômago, doença cuja
incidência coloca o Pará em segundo, entre os Estados da Federação.”
O outro aspecto apontado por Matta é que as águas analisadas não
podem ser classificadas como minerais. Água mineral é aquela que, além
de ter as mesmas propriedades de qualquer água de poço, de qualquer água
subterrânea que se conhece, precisa ter um parâmetro em que sobressaia.
“Por exemplo, uma água mineral cálcica é a que apresenta incidência de
cálcio acima do valor médio das demais águas da região. Assim, temos
água mineral potássica, água mineral férrica e assim por diante”. Matta
conclui, então, que as águas envasadas e comercializadas em Belém não
passam de águas comuns, não podendo, sequer, ser classificadas como
águas potáveis de mesa.
Produtos envasados em Belém não cumprem exigências
Em 2005, a imprensa paraense deu grande divulgação ao resultado do
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do estudante de Geologia Desaix
Paulo Balieiro Silva, que se propôs a comparar amostras de águas
coletadas nas fontes de quatro marcas – Belágua, Nossa Água, Mar Doce e
Indaiá – e compará-las com amostras das mesmas marcas coletadas em
garrafões comercializados em supermercado. Desaix objetivava verificar a
possibilidade de os processos físico-químicos modificarem as águas
depois da retirada da fonte, envasamento e comercialização. O resultado,
porém, foi surpreendente: nenhuma das marcas poderia ser classificada
como “água mineral”, mas como “água potável de mesa”. O artigo 3º do
Código de Águas Minerais, do Departamento Nacional de Produção Mineral,
define água potável de mesa como “de composição normal, proveniente de
fonte natural ou de fonte artificialmente captada, que preencha somente
as condições de potabilidade para a região”. Ou seja, não precisa ter um
parâmetro em que sobressaia, basta ser própria para consumo.
A repercussão na imprensa provocou manifestação do Ministério Público
do Estado (MPE), que emitiu notificação dando prazo de 120 dias para
que as empresas efetuassem mudança nos rótulos, com a retirada da
classificação “água mineral” e substituição por “água potável de mesa”.
Em outra ação, o MPE determinou a coleta nas fontes das quatro marcas
pesquisadas por Desaix e realização de análise físico-química no
Instituto Evandro Chagas. Embora o prazo tenha se encerrado, as empresas
não realizaram a substituição dos rótulos, nem se conhece ainda o
resultado do exame.
Para agravar ainda mais o quadro, a pesquisa de Érika Ferreira
Rodrigues comprovou o alto nível de acidez das sete marcas d’águas
envasadas em Belém, acrescentando três outras às quatro estudadas por
Desaix (Top Line, Grenagua e Terra Alta). O resultado das análises
mostrou que as “águas minerais” envasadas e consumidas em Belém não
cumprem, sequer, as exigências mínimas para serem classificadas como
“águas potáveis de mesa”.
Observações rumam para o desenvolvimento sustentável
Além de atestar os níveis de acidez, a pesquisa de Érika Ferreira
Rodrigues elaborou um quadro de propostas para o desenvolvimento
sustentável das empresas que produzem e comercializam águas minerais em
Belém, seguindo o tripé ambiental, social e econômico. O quadro foi
traçado a partir da observação em cinco das empresas, considerando que a
pesquisadora não foi autorizada a visitar as que produzem as marcas
Grenagua e Indaiá.
De maneira geral, ela aponta a necessidade de adequação às
determinações da legislação e das instruções normativas. Seguindo as
recomendações da ISO 14001, que trata do sistema de gestão ambiental, a
pesquisadora constatou que as empresas visitadas fazem uso de soda
cáustica no processo de lavagem dos garrafões, o que é recomendado,
assim como o uso de água a 50° C. No entanto observa a ausência de
monitoramento dos impactos causados pelo processo de limpeza, haja vista
a água voltar para o lençol freático. Como solução, aponta para a
necessidade de construção de tanques de lavagem. Outra recomendação é
adequação do sistema de ozônio ao processo de limpeza microbiológica dos
garrafões, que também gera impacto na sustentabilidade do entorno.
Observou também a inexistência de coleta seletiva e de reciclagem dos
resíduos industriais.
Na parte social, a pesquisadora constatou a falta de creches e
escolas para filhos de funcionários em quase todas as empresas, assim
como de salas de descanso e ambulatórios para uso dos funcionários. Na
parte econômica, observou que, apesar do uso de uniformes completos, os
funcionários necessitam de promoção de cursos de capacitação para o
trabalho de manipulação de alimentos, assim como para os que trabalham
no entorno das empresas e fontes. Outra necessidade diz respeito à
contratação de pessoal mais qualificado para o controle do processo. Em
relação aos garrafões, Érika Ferreira observou que todas as empresas
produzem vasilhames, mas não estão organizadas para exercício do
monitoramento sobre eles depois que saem da indústria. Assim, o retorno
não é garantido.
Sem falar na alta quantidade de Sódio. Mas parece que esses empresários não estão muito preocupados com essa ações do MPE, pois nada acontece, e nós consumidores ficamos com o prejuízo. Como tudo nesse país esse é mais um absurdo.
ResponderExcluir